Do portal: sites.uai.com.br
Diariamente, o porteiro Carlos André Glacis, de 29 anos, enfrentava dificuldades no caminho de casa ao trabalho. Isso porque ele não conseguia enxergar a numeração do ônibus e, muitas vezes, tinha vergonha de pedir ajuda, pois as pessoas o interpretavam mal. Diagnosticado com ceratocone, ele usou lentes de contato para minimizar a deficiência por sete anos. A cada três meses, tinha que trocá-las e, por isso, gastava muito dinheiro. Somente em 2011, depois de trocar de oftalmologista, ele soube que a doença tinha tratamentos mais eficazes que os que ele vinha fazendo. “A lente de contato já não surtia efeito. Atingi o nível avançado da doença e precisava de um tratamento mais certeiro”, diz. Apenas depois da cirurgia de implante do anel intracorneano, Glacis conseguiu um resultado satisfatório. “Hoje, sou outra pessoa. Vivo melhor e sou mais feliz”, garante o porteiro, cuja história provavelmente é vivida por milhares de pessoas.
O ceratocone é a distrofia mais comum da córnea e pode acometer uma pessoa a cada mil. Normalmente, se inicia como astigmatismo, miopia ou com ambos, podendo evoluir rapidamente ou levar anos para se desenvolver. A doença costuma surgir na adolescência, e raramente aparece depois dos 30 anos. O oftalmologista José Roberto de Araújo, da Clínica de Olhos e Especialidades Médicas Integradas, em Belo Horizonte, esclarece que o ceratocone é uma degeneração da córnea (parte anterior transparente do globo ocular), formando uma protusão ou cone, devido ao seu afinamento e encurvamento central, e pode ter evolução distinta em cada olho. “Prevalecem as causas de origem genéticas, havendo propensão para desenvolvimento e evolução da doença em determinada etapa da vida, principalmente na adolescência. Mas há ainda muito estudo e discussão a respeito”, diz o médico.
O especialista salienta que sintomas como a baixa acuidade visual progressiva, mesmo sendo corrigidos com óculos, não são satisfatórios. “A repetição das consultas com variação e aumento do grau das lentes em um curto espaço de tempo, por exemplo, mostra uma instabilidade característica da doença. Como há o fator hereditário e pode não haver sintomas ou sinais evidentes, é primordial realizar consultas desde os primeiros anos de vida, programando-se as revisões.
“Há situações de predisposição, como coçar os olhos de maneira crônica ou ficar horas no computador, sem intervalos. Nesse caso o ideal é fazer intervalos de cinco minutos a cada hora para estimular o ato de piscar e aumentar a lubrificação e proteção corneana. Deve-se evitar o uso inadequado de lentes de contato e é fundamental que haja acompanhamento médico caso a pessoa sinta algo nos olhos. Alimentação balanceada com verduras, legumes e frutas, além de boa ingestão de líquidos, sempre ajuda.
“O que sabemos é que ele apresenta caráter hereditário. O paciente com ceratocone, em um primeiro momento, apresenta redução da visão, com aumento crescente do astigmatismo. Não conhecemos cura para o problema, mas tratamentos alternativos que buscam a estabilidade da doença e a regularização da córnea. Casos muito avançados podem evoluir para perda severa da visão e com opacidade da córnea, sendo necessário realizar transplante para a recuperação visual”, diz Guilherme Ferrara, especialista em córnea da Clínica de Olhos Dr. Paulo Ferrara, em Belo Horizonte.
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