Do Portal de Oftalmologia
O HBV, vírus da hepatite B, responde por um terço dos descartes de córnea no Brasil. Avanço da doença faz Ministério da Saúde ampliar vacinação
O “Dia nacional de doação de órgão e tecidos” comemorado hoje, dia 27 de setembro, poderia ser marcado pelo fim da espera por córnea não fosse o avanço da hepatite B no país. É o que mostram os levantamentos anuais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária iniciados a partir de 2009 junto aos 44 bancos de olhos que fazem a captação, preservação e distribuição de córneas no Brasil.
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto a média nacional de descartes por hepatite B chega a 30%. Em alguns estados supera 50%. Este é o caso do Paraná que está entre os quatro maiores captadores do país. Em 2010 o estado teve 56% dos descartes causados pelo HBV. No mesmo ano, São Paulo que responde por mais da metade das captações, descartou 45% das córneas, sendo que 26% dos descartes estavam relacionados ao vírus da hepatite B.
Falta controle de doença na córnea
Queiroz Neto afirma que a maior causa do transplante de córnea no Brasil é o ceratocone. A doença que geralmente começa na adolescência provoca o afinamento da porção central da córnea. A causa pode ser úlcera, trauma, alergia, doenças hereditárias ou sistêmicas e uso prolongado de lentes de contato. O especialista diz que hoje já é possível diagnosticar o ceratocone antes que cause alterações importantes na qualidade da visão. Neste caso, comenta, o tratamento com cross link interrompe a evolução e evita o transplante. O problema é que 2 em cada 3 portadores chegam à primeira consulta quando o transplante já é iminente.
Prevenção
Para não ser surpreendido pelo ceratocone, o especialista recomenda passar por exames periódicos com um oftalmologista quando há casos de astigmatismo ou ceratocone na família, pessoas alérgicas e quem usa lente de contato.
Na opinião do médico, a quantidade de córneas que vai para o lixo por causa da hepatite B, mais os dados do Ministério da Saúde que apontam 33 mil novos casos ao ano de contaminações pelas diferentes sepas do vírus, influiu na decisão do governo incluir em 2011 a população com idade entre 19 e 24 anos no programa de vacinação contra o HBV.
Em parte, comenta, isso pode explicar o aumento dos transplantes de córnea em 2011. Foram realizados 14,1 mil procedimentos no ano, segundo levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Significa um aumento de mais de 40% em relação a 2010, quando foram contabilizadas 9,2 mil cirurgias.
Neste ano, o programa de vacinação se estende até a idade de 29 anos, devendo favorecer ainda mais quem está na fila de córnea. Quem quiser evitar a contaminação deve comparecer ao posto de saúde da região onde mora e tomar as três doses da vacina. Para completar a imunização Queiroz Neto diz que é recomendável usar preservativo nas relações sexuais e evitar o compartilhamento de aparelho de barbear, agulhas, alicate de cutícula e outros objetos cortantes. Como o vírus é transmitido pelos fluidos do corpo contaminado, a mãe pode transmitir a doença ao bebê na amamentação ou durante a gestação e parto. Por se tratar de uma doença assintomática, a recomendação é fazer um exame de sangue caso tenha um comportamento de risco.
Para doar a córnea
O especialista diz que não adianta deixar escrito que quer doar a córnea ou algum órgão. É necessário comunicar a família. Isso porque só os familiares podem decidir sobre a doação. E claro, para que a doação seja efetiva, deve seguir as recomendações preventivas para não contrair o HVB e em caso de dúvida fazer um exame de sangue. Caso contrário quem vai receber a córnea é o lixo.
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