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Colírio: uso indiscriminado e sem indicação médica podem prejudicar visão

Colírio: uso indiscriminado e sem indicação médica podem prejudicar visão

Ministério da Saúde alerta que a automedicação é a maior causa de internações por intoxicação no Brasil. Os colírios adstringentes, usados para tirar a vermelhidão do olho e vendidos sem receita no país, podem, em longo prazo, causar catarata. Outro problema em relação à medicação é o mau uso que atinge 67% dos tratamentos




Você sabia que só cabe uma gota de colírio em cada olho? E que depois de aberto o medicamento dura apenas 30 dias? Ainda e mais importante: com exceção do grau, a terapia para todos os problemas oftalmológicos é o colírio. Isso significa que o uso indiscriminado e sem acompanhamento médico tem consequências. Para agravar a situação, os tipos que não contêm antibiótico ou corticóide são vendidos sem receita médica. E lembre-se: como qualquer outro remédio, a variedade significa que cada um atende a uma necessidade específica.



Os colírios adstringentes – usados para tirar a vermelhidão do olho – são usados indiscriminadamente. Para o oftalmologista Guilherme Pascal, a questão não é só de efeito colateral, “é deixar de dar atenção correta à doença”, diz.

Estudo conduzido pelo oftalmologista do Instituto Penido Burnier, Leôncio Queiroz Neto, com 369 pacientes, mostra que no verão 40% dos pacientes já chegam ao consultório usando colírio por contra própria por causa do aumento dos casos de conjuntivite, contra 30% no restante do ano. “O brasileiro tem este hábito porque independente da fórmula todo colírio melhora o conforto do olho”, comenta.  No entanto, de acordo com o Ministério da Saúde (MS) a automedicação é a maior causa de internações por intoxicação no Brasil. Quando se trata de colírio, o estudo conduzido por Queiroz Neto mostra que o vasoconstritor – também conhecido por adstringente – que serve para deixar o olho branquinho, é usado por 56% das pessoas. Em longo prazo, o especialista diz que a medicação pode causar catarata. Um outro estudo feito por Leôncio Queiroz Neto mostra que o mau uso do colírio atinge 67% dos tratamentos. Os erros mais comuns são a contaminação do bico dosador pelo contato com o dedo ou mucosa ocular, piscar várias vezes após a instilação, colocando o medicamento para fora dos olhos, automedicação com o colírio inadequado e absorção do medicamento pelo organismo. Para evitar efeitos colaterais sobre o organismo ele ensina ocluir com o dedo indicador o ducto lacrimal na extremidade interna do olho. Este simples cuidado evita, por exemplo, alterações cardíacas em casos de uso de colírio vasoconstritor. Um dos tipos que pode ser adquirido sem receita médica é a lágrima artificial que tem função osmoprotetora e lubrificante. Entretanto, deixar de sentir o incômodo da secura do olho pelo uso do colírio não significa que a causa está sendo tratada. O oftalmologista Guilherme Pascal explica que os lubrificantes são colírios de efeitos colaterais pequenos e os mais seguros. Outra categoria de acesso fácil e irrestrito é justamente o adstringente. “Eles são usados para tirar a vermelhidão do olho, mas desconheço um oftalmologista que prescreva de rotina esse tipo de colírio”, afirma o médico. O que é preciso ter consciência é que o motivo da vermelhidão precisa ser investigado e essa classe, apesar de ter efeito imediato contra a vermelhidão, faz com que os vasos sanguíneos que estavam dilatados se fechem, mas o efeito é passageiro e os vasos voltam a se dilatar. A lágrima artificial ou colírio lubrificante – muito usada por quem passa muito tempo em frente a telas de computador, smartphones e tablets – é a que tem menos efeitos colaterais em comparação com outros, mas mesmo assim, ainda que raro, pode desencadear um quadro de conjuntivite alérgica. Para Guilherme Pascal, a questão não é só de efeito colateral, “é deixar de dar atenção correta à doença”, diz. O que acontece na maioria das vezes é que ao primeiro sinal de desconforto um colírio é utilizado. Em alguns casos, até emprestado. O principal ponto é que as pessoas não encaram “essa aguinha” como remédio. É bom repetir que qualquer uma das categorias tem princípios ativos e para cada problema há um colírio certo. Os casos de conjuntivite, por exemplo, aumentam em 30% nessa época do ano e têm causas e tratamentos diferentes: se é alérgica, é recomendado o colírio antialérgico; se é bacteriana, colírio antibiótico; se é viral, um colírio antiinflamatório.



O colírio com corticóide alivia as reações do olho, mas o uso incorreto pode apressar o aparecimento da catarata e pode aumentar a pressão do olho desencadeando o glaucoma

Casos extremos O oftalmologista Gustavo Pascal compartilha a história de um paciente de 16 anos que perdeu a visão de um dos olhos pelo uso indiscriminado de colírio com corticóide. “Ele tinha conjuntivite alérgica e aplicava o medicamento sem acompanhamento médico. Como melhorava, foi usando. Quando chegou ao meu consultório, um olho já estava cego e o outro, quase sem visão”, narra. Ele explica que o menino não percebeu que não enxergava de um olho. “Não temos o costume de tampar um olho para testar a visão”. O médico explica que o colírio desencadeou um glaucoma cortisônico. Nesse caso, apesar de o remédio exigir receita médica, a farmácia não era obrigada a retê-la. Assim, com o mesmo documento comprava-se várias vezes. O designer gráfico André Firmino, de 26 anos, foi diagnosticado com conjuntivite alérgica aos 8 anos. Desde então, faz uso do colírio com corticóide. Segundo ele, sempre com acompanhamento, mas desenvolveu uma catarata precoce. “Já era um risco calculado. Quinze por cento da minha visão é comprometida pela catarata. Como está muito precoce, optei por não fazer a cirurgia”, afirma. André diz, entretanto, que durante as crises comprava o medicamento sem receita. Mas ele diz que isso mudou: “hoje eu não consigo mais comprar colírio com corticóide sem receita”. Dicas para aplicar o colírio corretamente Mesmo para aqueles que fazem uso do colírio com indicação e acompanhamento médico, é importante se ater à forma de aplicá-lo. Por exemplo, quando a pessoa usa mais de um colírio deve respeitar o intervalo de cinco a dez minutos entre um colírio e outro já que o olho só comporta uma gota por vez.  Um aspecto importante na hora de aplicar o colírio é a higiene. “É importante dar uma distância entre o bico do recipiente e o olho. Não se deve encostar o colírio no cílio para não contaminar o medicamento, principalmente as pessoas que estão com conjuntivite”, pontua Gustavo Pascal.



Não desperdice colírio, lembre-se que em cada olho só cabe uma gota de colírio (Arte: Soraia Piva | Imagens: Allergan)

Segundo ele, o verão é o auge do surto da doença. “É muito comum nessa época um olho vermelho ser sinal de conjuntivite e a pessoa pegar o colírio de outra e usar. O que pode acontecer, na verdade, é que essa pessoa pega a doença pelo tratamento que foi instituída a outra”, alerta.  O médico explica que a conjuntivite se pega pelas mãos: “a pessoa manipula o olho, coça, limpa com soro e colírio. Onde ela encosta deixa o vírus. Se outra colocar a mão naquele lugar e, levá-la ao olho, pega”. Segundo ele, a higienização das mãos é muito importante para quem está com conjuntivite e também para quem não está. Dicas para se prevenir da conjuntivite:

  1. Mantenha as mãos sempre limpas.

  2. Evite coçar os olhos.

  3. Depois de lavar as mãos, higienize com solução de 70% de álcool.

  4. Quem compartilha computador deve limpar o mouse e o teclado com álcool a 70%.

  5. Evite tocar no corrimão de escadas púbicas.

  6. Não compartilhe colírio, toalhas, fronhas ou maquiagem.

Sobre o soro fisiológico Gustavo Pascal explica que o soro fisiológico alivia o incômodo do olho, mas as lágrimas artificiais retêm por muito mais tempo a umidade, além de regenerar de forma eficaz as irritações. “O efeito do soro é fugaz. Além disso, o líquido contém um conservante que pode irritar ainda mais o olho”, observa. Outro ponto é que o soro se contamina mais facilmente. “A durabilidade, se guardado na geladeira é de 7 dias. O colírio tem uma conservação melhor. Aberto, dura 30 dias”, afirma.

fonte: site Saúde Plena

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